terça-feira, 2 de março de 2010

dor.

eu não sabia o quanto valorizava minha boca. eu a uso pra fazer todas as coisas que gosto de fazer: comer, beber, fumar, beijar, e principalmente falar. pela primeira vez na vida minha voz sai estranha, me dói e eu falo pouco. tem uma peste berrando aqui perto de casa. se ele pelo menos soubesse usar a boca e a garganta pra coisas melhores, enquanto pode usá-las plenamente. me lembro que sempre mastigava a comida umas cinco vezes, quando o normal é mais de trinta, e me arrependo de não aproveitar pra mastigar quando podia. eu tinha pena sincera de quem fazia dietas de líquidos, e agora é a minha vez. não parei de fumar, mas não consigo fumar do jeito que gosto, e frequentemente o cigarro apaga porque não posso puxar muito forte a fumaça. está começando a ficar difícil até pra beber coisas com a língua cheia de aftas. e quero beijar, beijar alguém, mas como, se não consigo nem abrir direito a boca? eu achava que era forte, mas sou fraco, não fui feito pra suportar qualquer tipo de dor física, seja uma infecção no siso com direito a dor de garganta e aftas, seja uma enxaqueca, eu faço tempestade por isso e não consigo fazer nada direito quando sinto dor. e quanto a dor de dentro? essa não me impede de fazer nada, mas limita tudo que eu faço e me deixa apático, intragável, se eu sofro, de que importam os outros? a dor dói muito mais em mim do que neles, porque neles logo passa; em mim fica sendo ruminada, mastigada, até mesmo agora que dói até pra mastigar. a dor de dentro dói em mim até o momento em que eu acho outro motivo pra sentir dor. mas quando alguém me conforta e trata minha dor e minha febre, é mais fácil de suportar.

Nenhum comentário:

Postar um comentário